“Durante muitos anos eu pensei que não conseguiria porque estudei em escola pública na zona rural”: trajetória do residente médico Wagner Antônio Alves

“Durante muitos anos eu pensei que não conseguiria porque estudei em escola pública na zona rural”: trajetória do residente médico Wagner Antônio Alves

Conheça a trajetória profissional de Wagner Antônio Alves, residente médico aprovado no Processo Seletivo Unificado de Minas Gerais (PSU-MG) extemporâneo de 2021 para Medicina Intensiva, mas que, antes do tão esperado sonho da medicina, começou como enfermeiro, agente penitenciário, zelador e bombeiro.

Sonho e desilusão da medicina

“Quando a gente é criança os professores da pré-escola sempre vêm com aquela caixinha de ‘o que você quer ser quando crescer?’, eu coloquei que queria ser médico e realmente foi um sonho de infância. Só que a caminhada não foi mil maravilhas igual a gente já espera no concurso de medicina”, disse o residente médico Wagner Antônio Alves, 38, nascido em Mantenas, Minas Gerais.

Apesar de ter nascido em Minas Gerais, Wagner cresceu no Espírito Santo e durante a maior parte de sua vida morou na zona rural. Além disso, ele estudou em uma escola pública do interior, “infelizmente nem na capital dentro da escola pública se tem professores realmente habilitados em suas devidas áreas, imagina na roça”, declarou o médico. 

Para Alves, os desestímulos sobre a medicina começaram desde a época do ensino médio. “As pessoas geralmente elevam o nível de dificuldade para tudo e começam a comparar a questão de estudante da escola pública e particular, estudante da capital e do interior”, relata. Além disso, eram poucas as pessoas otimistas no meio de tantas com o pensamento negativo, o que ajudou a piorar as dificuldades e incertezas. “Durante muitos anos eu pensei que não conseguiria porque estudei em escola pública na roça. Eu nunca tive um professor de química que era formado em química, sempre eram professores que pegavam as aulas para complementar carga horária. Sem desmerecer os professores que tive, que foram excelentes e na medida do possível faziam a parte deles para buscar e conseguir ofertar o melhor para os alunos”.

Wagner terminou o ensino médio em 2001 e até então acreditava que seu sonho de tornar-se médico era inalcançável e inatingível. “Muitas pessoas me disseram isso e infelizmente acabei acreditando”, relata. O plano inicial de Alves era realizar uma graduação para conseguir trabalhar e a partir disso trilhar o seu caminho para a medicina. Dessa forma, em 2004, ele recorreu à enfermagem por também ser da área de saúde e iniciou a graduação pela UNESC do Espírito Santo. Alves estudava em período integral e trabalhava como zelador no prédio em que morava, mas ao iniciar o seu quarto período de curso, foi aprovado em um processo seletivo para estágio remunerado.

Antes de médico, enfermeiro, agente penitenciário e bombeiro

Em 2006, durante a sua graduação em Enfermagem, Wagner recebeu a ligação de uma prima, cujo esposo era agente penitenciário, que comentou sobre um concurso para o mesmo emprego de seu parceiro, “ela dizia se tratar de um bom salário e eu nem precisaria pagar inscrição, então me inscrevi”. No dia da prova, Alves estava exausto de tanto trabalhar no dia anterior, “juro que até cochilei durante a prova. Quando o resultado positivo da primeira etapa saiu, fiquei surpreso”, disse ele. Por sua situação financeira precária na época, ele nem cogitou participar da segunda etapa do concurso, porém, conseguiu a ajuda de um amigo para realizá-la. 

Assim que ele foi aprovado para o curso de agente penitenciário, trancou o curso de  Enfermagem em 2007, no início do sétimo período da universidade. “Ante a incerteza de emprego na área da enfermagem, optei por trancar a faculdade”, relatou o médico. Entretanto, foi publicado um adiamento do início do curso de agente penitenciário para o semestre seguinte e Wagner, então, voltou para a roça e trabalhou como professor na rede estadual de educação até o primeiro semestre de 2008, quando pôde retornar e iniciar sua formação. Ao finalizar o curso, ele trabalhou na área durante seis meses. Nesse tempo, ele retornou ao sétimo período do curso de enfermagem e fez uma prova de concurso para participar do corpo de bombeiros militares do Espírito Santo.

No primeiro semestre de 2009, Alves foi convocado para o curso de formação do corpo de bombeiros e novamente trancou o curso de enfermagem. Porém, após um ano, já como bombeiro, Wagner retornou à faculdade e finalizou a graduação em julho de 2010. Já no corpo de bombeiros ele continuou durante seus próximos seis anos.

O sonho da medicina e mudança de estado

Em 2013 foi quando Alves decidiu correr atrás do seu verdadeiro sonho: a medicina. “Aquele sonho que eu não acreditava, mas eu pensei ‘eu já tive uma caminhada tão grande até aqui, consegui tanta coisa, eu consigo”. Apesar de já empregado, com anos de experiência e carreira, Alves decidiu largar tudo e começar do zero para viver o seu sonho. Mesmo com as incertezas de “e se não der certo no final? E se eu não conseguir chegar lá? Estou largando tudo para começar do zero e parar no meio do caminho?”, para ele, a certeza de sua escolha na medicina era maior e os receios passaram definitivamente quando aumentou o seu vínculo social. “Eu tenho amigos no ES, em Sergipe, agora em Minas. As conquistam trazem também saudades”

A família de Alves sempre apoiou todas as suas decisões. “Eles tinham um receio maior em relação a elas do que eu mesmo, perguntavam se eu tinha pensado bem, se tinha certeza que ia largar tudo para começar de novo. E quando eu falei que era isso que eu queria, todo mundo mandou apoio”.

Durante o período do cursinho preparatório para prestar prova para a faculdade de medicina, Wagner estudava de segunda a sexta e passava 48 horas seguidas de seu fim de semana no trabalho. “Foi uma rotina que no final de um ano eu estava super estressado, cansado, não aguentava mais.” No mesmo ano do início de seu objetivo, Wagner prestou vestibular para a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), onde foi aprovado apenas na primeira fase e tentou o SISU, onde foi reprovado. Porém, em 2014, após dois anos de estudos, ele passou na Universidade Federal de Sergipe (UFS), “um sonho para a maioria das pessoas”, segundo ele. Assim, ele teve que sair do Espírito Santo e migrar para a cidade de sua faculdade.

A determinação de Wagner fez com que a mudança de estado não fosse um desafio para ele durante a faculdade. “Eu tive mais emoção no dia que eu passei no vestibular do que no dia que eu colei grau. A emoção de entrar na faculdade foi maior do que a de sair. Foi incrível isso”. Além disso, para Alves, os médicos acabam se tornando um pouco  antissociais por conta da rotina corrida de trabalhar e estudar. No período de sua graduação, ele não praticava exercícios físicos e se preocupava apenas com os estudos e seu rendimento acadêmico. “Não almejava ser o número um da turma, mas também não queria ser o último e ficar para trás”, disse. Ele percebeu que isso o estava prejudicando e, por isso, reduziu sua carga horária de estudos e tirou um tempo para si, indo à academia. “Esse tempo que eu tirava para mim melhorou tudo na minha vida, desde o sono até os estudos”.

Indecisões e Residência Médica

Após seis anos de estudos na UFS, ele voltou para o Espírito Santo e trabalhou por 2 anos entre o Pronto Socorro do Hospital de Mantenópolis e do Hospital Estadual Dr. Alceu Melgaço Filho, o pronto atendimento da Prefeitura de Águia Branca e o Programa de Saúde da Família da Prefeitura de Água Doce do Norte. Em 2021, Wagner começou a estudar para a sua residência médica em Cirurgia Geral pelo material do Estratégia MED, através da recomendação de uma amiga sobre a Revisão de Véspera para o PSU-MG.

Wagner prestou e foi aprovado para Cirurgia Geral no Hospital César Leite, em Minas Gerais, e em Medicina de Emergência no Hospital João XXIII, em Belo Horizonte. “Assisti à revisão em 2020 e quando eu me deparei com a prova, ela estava toda no EMED. Eles acertaram praticamente tudo, falaram a prova toda para mim. Não deu outra, fui aprovado para Cirurgia Geral e Medicina de Emergência onde eu queria”.

Por ter trabalhado durante sete anos com o resgate de vítimas graves e de trauma, Alves pensou que sua especialidade ideal seria a Cirurgia Geral. Durante a graduação também gostava de realizar procedimentos e, por isso, começou a residir nessa área. “Eu gostava mesmo do paciente grave e de fazer procedimentos, mas não gostava de ficar operando. Toda vez que eu ia para a UTI e visitava os pacientes eu me deparava com um outro cenário”, disse ele. Por isso, após dois meses em Cirurgia, ele começou a enxergar na Terapia Intensiva o “casamento” ideal do que ele gostava e o que a especialidade oferecia.

Dessa forma, Wagner realizou residência médica em Medicina Intensiva no Hospital Metropolitano Doutor Célio de Castro. A especialidade sofreu o deslocamento de categoria  em 2021, passando de Pré-Requisito para Acesso Direto, e o residente foi aprovado no primeiro concurso extemporâneo com a mudança. “Em cima da hora abriu o edital com 3 semanas para a prova. Fui no Estratégia selecionar questões do PSU e o resultado disso? Hoje estou aqui entrando no quinto mês de residência”.

Segundo o residente, a busca pela Medicina Intensiva aumentou, talvez pela pandemia e alta demanda por médicos intensivistas, ou pela mudança para Acesso Direto, “imagina fazer uma residência para poder fazer uma outra residência. É bem cansativo, bastante puxado”, alega. De qualquer forma, para ele, não houve uma grande mudança dentro do padrão de prova, comparado com os outros anos do seletivo sem extemporaneidade.

Sobre a escolha do PSU-MG para a sua residência médica, Wagner nunca teve vontade de migrar para São Paulo e, para ele, Minas Gerais é um estado maravilhoso, enorme e com muito a oferecer, além de ser próximo a sua casa. Por isso, ele entrou no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) da cidade e viu o que cada hospital tinha a oferecer. “Eu queria ir naquele que tivesse muitos leitos porque teria mais oportunidade para aprender, número maior de pacientes, e descobri o hospital que hoje estou, com 80 leitos de UTI”.

Para Wagner, o Estratégia MED, durante a reta final antes das provas para Residência Médica, fez toda a diferença, “as questões do Estratégia têm foco certeiro no que realmente cai nas provas”. Além disso, para ele, o EMED tornou o seu sonho mais acessível e possível. “Quando ouvem falar sobre medicina e fazer curso preparatório para residência, as empresas e pessoas olham e acham que ‘faz medicina ou é médico, então nadam em dinheiro’ e colocam os preços absurdos. O Estratégia MED é super acessível e ainda faz prova para bolsa de estudos. Isso é incrível.”

Futuro profissional de Wagner e conselho para os futuros residentes médicos

Para seu futuro profissional, Wagner pretende terminar a sua residência em Medicina Intensiva e entrar em um hospital, de preferência, da rede pública. “Gosto muito de trabalhar com pacientes do SUS. Não que eu não vá trabalhar na rede privada também, mas meu grande sonho é esse, por sempre ter dependido do sistema público e por ter vivenciado diversas vezes a necessidade de precisar de um atendimento e não ter um profissional que atendesse a não ser particular, levando em consideração que fui criado em uma região rural”. Atendimento esse que, segundo Alves, para ser pago, na maioria das vezes, compromete todo o orçamento de uma família. “Porém, hoje vejo que a carência na rede pública é um problema presente também na capital. Além disso, na saúde pública temos muitas oportunidades de emprego”, alega.

Apesar das inseguranças e desestímulos, para Wagner, se ele conseguiu conquistar o seu sonho, todos conseguem. “Não digo que é fácil, mas as pessoas que colocam limites nos seus sonhos. Se você acreditar que você é capaz, não adianta ninguém falar que é difícil. A partir do momento que você acredita em você é quando você vai ver que você é capaz disso e muito mais. Eu não sei quando a medicina entrou na minha vida, só sei que no dia que eu respondi aquela perguntinha ela nunca mais saiu da minha cabeça”.

Curso Extensivo Residência Médica

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