Síndrome pós-Covid: o que é, tipos de sequelas e mais!

Síndrome pós-Covid: o que é, tipos de sequelas e mais!

Receber a alta hospitalar pela infecção da Covid-19 é o momento mais esperado para o infectado e sua família, porém, em alguns casos pode ser a chegada de uma segunda jornada complicada, o momento de tratar uma série de sintomas que acometem os recém-curados.

Não se descarta a possibilidade de, no futuro, pacientes assintomáticos também apresentarem sequelas. Por isso, o Estratégia MED te explica tudo sobre a síndrome pós-Covid, também conhecida como Covid Longa!

O que é síndrome pós-Covid?

Um estudo publicado no Journal of the American Medical Association, realizado com 143 pessoas, mostrou que mais de 87% dos pacientes apresentaram persistência de algum dos sintomas da Covid-19 dois meses depois da internação. A síndrome pós-Covid, que é diferente de loung-hauler, é uma complicação vinda após a infecção pelo vírus, se manifesta como uma condição inflamatória associada a problemas no sistema nervoso central e músculo-esquelético.

Nem sempre a alta médica logo após a fase aguda da Covid-19 significa que o paciente está curado, os riscos de sequelas em todos os órgãos vitais são grandes. Segundo a pesquisa “Coalizão COVID”, divulgada pela Folha de São Paulo, em fevereiro de 2021, 25% dos pacientes que foram intubados com o vírus e 2% dos que não foram, vieram a óbito no período de 6 meses após a alta hospitalar. A pesquisa foi desenvolvida pelos hospitais Albert Einstein, HCor, Sírio-Libanês, Moinhos de Vento, Oswaldo Cruz, Beneficência Portuguesa, além do Brazilian Clinical Research Institute e da Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva.

Realizar o diagnóstico da síndrome é complicado, pois o médico precisa diferenciá-la de diagnósticos que apresentam sintomas semelhantes, como depressão, anemia e sequela pulmonar. O cansaço extremo, dor no peito e outras sensações podem persistir nos pacientes a sua rotina pode ser prejudicada.

A síndrome atinge, principalmente, pacientes que tiveram o caso agudo da doença, como aqueles que tiveram internações prolongadas ou que foram intubados. As pessoas podem voltar para a casa com dores pelo corpo, sequelas respiratórias e perda do condicionamento físico, isso ocorre por conta do tempo de internação e danos pelas inflamações sistêmicas.

Porém, pacientes com quadros leves e moderados também podem apresentar sequelas. A síndrome pós-Covid ainda está em estudo e cientistas trabalham para conhecê-la melhor e para desenvolverem métodos de prevenção e tratamento.

Tipos de sequelas da Síndrome pós-Covid

Sequela cardiovascular

O Coronavírus foi, inicialmente, entendido como uma doença pulmonar, porém, foi percebido que ele pode causar uma enfermidade sistêmica, atacando órgãos e funções do corpo. Segundo estudo realizado em abril de 2020, na Universidade de Edimburgo, no Reino Unido, cerca de 55% dos pacientes internados com Covid-19 desenvolveram anormalidades na função cardíaca.

Apesar de pessoas com doenças cardiovasculares preexistentes, como hipertensão, serem uma população de risco para a Covid-19, outras complicações cardiovasculares como miocardite, infarto do miocárdio, arritmias, insuficiência cardíaca e aumento ou diminuição da pressão arterial podem estar relacionadas com o vírus, mesmo que o paciente não tenha uma doença anterior.

Outra pesquisa realizada pelo Hospital das Clínicas (HC), da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), confirmou que há uma presença de partículas do Coronavírus em células musculares cardíacas. A miocardite é uma inflamação no músculo chamado miocárdio e pode causar falência da bomba cardíaca, com a redução de bombeamento no órgão, além das cicatrizes, que podem causar arritmias.

Outras sequelas cardíacas podem ser:

  • Disfunção endotelial;
  • Menor quantidade de oxigênio para o organismo;
  • Embolia pulmonar;
  • Aumento da atividade pró-coagulante;
  • Formação de trombos na artéria coronária; e 
  • Infarto do miocárdio, em casos graves.

Por esses motivos, pacientes com os sintomas devem ser avaliados através de eletrocardiografia, ecocardiografia e acompanhamento por cardiologistas.

Sequela respiratória

Sintomas como dispneia – dificuldade de respirar com respiração rápida e curta – falta de ar, cansaço, fadiga e tosse crônica podem ser alerta para a síndrome pós-Covid, fazendo parte da redução da capacidade pulmonar. Em maio de 2020, foi criada pela médica Melissa Heightman, a primeira clínica de reabilitação pós-Covid do mundo, no Hospital da Universidade College London, no Reino Unido.

Em pesquisas realizadas pela universidade, cientistas detectaram mais de 200 sintomas relacionados à Covid Longa e os dados mostraram que, dos 3.762 pacientes analisados e que tinham sido infectados, 77% continuavam sentindo fadiga após 6 meses e 72% sentiam mal-estar após esforço físico.

A fadiga sufocante, também chamada de neuromielite miálgica, foi o sintoma descrito por mais de 80% dos pacientes da clínica. Ela se caracteriza por uma alteração imunológica que produz anticorpos que afetam a frequência cardíaca, pressão arterial e força muscular, gerando sintomas como dores musculares e articulares, cansaço, febre baixa e perda de memória.

Além disso, a doença é identificada, principalmente, em pacientes que tiveram comprometimento no coração. O seu diagnóstico é clínico, por isso, pode ser confundido com a fibromialgia, porém, a duração das doenças e os sintomas são diferentes.

Uma das causas da síndrome da fadiga crônica pode ser a fibrose pulmonar, onde o sistema imunológico realiza um processo inflamatório. Essa inflamação libera substâncias que lesionam órgãos e tecidos, como os pulmões, onde ficam as fibroses e há o maior combate ao Sars-CoV-2.

A fibrose pulmonar é uma cicatriz gerada após a inflamação do pulmão. Ela causa a perda de desempenho do órgão e mostra sintomas como tosse crônica, o que dificulta as atividades mais simples do dia a dia das pessoas.

Segundo outro estudo da King’s College London, no Reino Unido, mais de 3,5 milhões de pessoas podem ter certo grau de cicatrização pulmonar em seguida da infecção pela Covid-19. Os pesquisadores da universidade irão realizar o primeiro estudo sobre o possível tratamento com terapia celular.

A avaliação dos pacientes por meio de tomografias do tórax, oximetria de pulso e teste de caminhada de 6 minutos são importantes durante o acompanhamento.

Sequela hematológica

Segundo artigos analisados pelo “Hematology, Transfusion and Cell Therapy”, publicação científica da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH), embora as sequelas pós-Covid se manifestem, principalmente, nos pulmões, dados clínicos mostraram a associação do vírus com coagulopatias, como a trombose venosa.  

Nos artigos, casos de tromboembolismo venoso (TEV) em pacientes infectados pela Covid-19 tiveram taxa de incidência variando de 20 a 58%. Além disso, dois estudos concordaram com a ocorrência de 3% de acidente vascular cerebral e 36% de trombocitopenia. Todos concordaram com índices mais altos da doença em pacientes graves, como os que foram internados em UTI. 

A Covid-19 apresenta significativas alterações no sistema hematopoiético, associadas à hipercoagulabilidade. Por isso, é importante uma vigilância e monitoramento laboratorial nos pacientes desde o início dos sintomas, com medidas preventivas relacionadas até a tromboprofilaxia e uma identificação precoce de complicações letais.

Além disso, uma avaliação individual é recomendada, principalmente em pacientes portadores de d-dímero elevado, doença oncológica ou histórico de doença trombótica. A avaliação cuidadosa dos índices laboratoriais logo no início da doença e durante a evolução ajudam para o desenvolvimento de um tratamento adaptado.

Sequela neuropsiquiátrica

A infecção pelo Coronavírus e o enfrentamento de uma internação podem ser fatores para o desenvolvimento de transtornos emocionais, como ansiedade e depressão, já que os infectados  ficam sem nenhum tipo de contato externo.

Um estudo realizado com mais de 230 mil pessoas, pela Universidade de Oxford, mostrou que uma em cada três pessoas recuperadas da infecção pela Covid-19 sofreram algum distúrbio cerebral ou psiquiátrico no período de seis meses após a alta. Esquecimento, déficit de atenção e de memória, dificuldade de raciocínio, concentração e sonolência diurna estão entre as sequelas do sistema neuropsiquiátrico.

Conforme a pesquisa, 17% dos pacientes apresentaram sintomas de transtorno de ansiedade e 14% alterações no humor, sendo esses os sintomas mais comuns entre os estudados. Além disso, 7% sofreram derrame e 2% foram diagnosticados com demência. Pesquisadores da University College London, em 2020, descobriram 43 casos de pacientes infectados que apresentaram inflamações, psicoses e delírios, o que pode evoluir para um declínio cognitivo ou depressão.

O coronavírus atravessa o sistema nervoso central do paciente e provoca uma encefalite viral, gerando doenças como a Síndrome de Guillain-Barré, que causam fraqueza, formigamento nos pés e pernas e se espalham para a parte superior do corpo, causando perda de força nos membros e dificuldade motora.

Conforme exames de imagens feitos pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o vírus da Covid-19 parece alterar padrões de conectividade do cérebro, causando como um “curto-circuito”, um gasto de energia que o torna ineficiente.

Por isso, o acompanhamento de um neuropsiquiatra é fundamental para os pacientes quando ganham a alta, além de medidas não farmacológicas como a presença de um familiar ou um amigo durante a internação.

Sequela dermatológica

Uma pesquisa feita por universidades dos Estados Unidos, México e Suécia analisou estudos feitos sobre sintomas pós-Covid com, aproximadamente, 48 mil pacientes e, dentre os sintomas mais comuns, além da fadiga, dor de cabeça e falta de atenção, 25% deles citaram a perda de cabelo.

Além disso, outra pesquisa realizada pela King’s College London, em janeiro de 2021, analisou quase 350 mil pessoas. Dentre elas, 17% apontaram erupções na pele e 21% disseram que sinais dermatológicos foram os únicos apresentados.

Eles dividiram os efeitos entre erupções inflamatórias e exantemas e os três sinais mais comuns eram: urticária, eritema vesicular e papular, com duração de 5 a 14 dias e atingindo, principalmente, as mulheres. O acompanhamento de um dermatologista e avaliação dos nutrientes do corpo por especialistas é de extrema importância.

Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica pós-covid

O vírus da Covid-19 também pode causar a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica, com mudanças no trato gastrointestinal, pele, sistema nervoso central, pulmões e disfunção cardíaca, com consequências neurológicas, cardiovasculares e intestinais, principalmente, em crianças e adolescentes

As crianças podem apresentar sintomas como febre alta, indisposição e manchas ou bolhas na pele, por isso, é importante ficar atento a todos os sinais.

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