A baixa estatura é uma queixa frequente na consulta pediátrica, apresentando diagnósticos e avaliações bem específicas. Confira agora alguns aspectos relacionados a este tema pediátrico.
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Definição de baixa estatura
A baixa estatura é definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como crescimento abaixo do percentil 3 ou Z score <2. Muitas vezes os pais trazem essa queixa. No entanto quando se mede corretamente a estatura e classifica a criança dentro da curva de referência, geralmente a criança está com o crescimento adequado.
Como ocorre o crescimento
O crescimento pós-natal está associado a diversos fatores, como potencial genético, fatores ambientais, nutrição e comorbidades, como asma, doença celíaca e insuficiência renal. A estatura alvo baseado no potencial genético pode ser calculado a partir das fórmulas abaixo, que variam +-9cm para as meninas e +-10 cm para os meninos:
- Meninas: Altura do pai + altura da mãe – 13 / 2
- Meninas: Altura do pai + altura da mãe + 13 / 2
O lactente apresenta o maior taxa de crescimento, passando por uma fase pré-púbere em que o crescimento é constante até chegar na puberdade, idade em que ocorre novo crescimento rápido com estirão.
Avaliação da baixa estatura
O diagnóstico requer entrevistas em profundidade, medidas antropométricas, análise de ancestralidade, investigações bioquímicas etc. Inicialmente, o crescimento é acompanhado durante a infância e adolescência aplicando a estatura dentro das curvas de crescimento. Se a criança não é acompanhada continuamente, deve ser reavaliada a estatura novamente em seis meses a um ano.
- Se a criança ou adolescente se encontra acima do Z-2 e apresenta a velocidade de crescimento normal, ela não apresenta nenhum distúrbio de crescimento.
- Se a estatura da criança ou adolescente se encontra abaixo do Z-2 e apresenta a velocidade de crescimento normal, ela provavelmente apresenta variantes da normalidade de crescimento.
- Para aquelas com estatura abaixo dos Z-2 e velocidade de crescimento reduzida, é a criança com baixa estatura que merece investigação adicional.
As alterações de crescimento percebidas antes dos 3 anos de idade estão geralmente relacionados a problemas com a nutrição, enquanto problemas diagnosticados após os 3 anos estão relacionados principalmente a questões hormonais. É importante questionar o uso de medicações, como corticoides em excesso, que afetam o crescimento adequado, além de início da puberdade dos pais (filhos de pais com o atraso na puberdade, também apresentam puberdade tardia e crescimento com maior idade), estatura-alvo e a história de doenças agudas ocorridas com o paciente.
Exames para diagnóstico de baixa estatura
O exame mais importante para avaliação da baixa estatura é a idade óssea vista a partir das radiografias de mão e punhos esquerdos, comparando o grau de ossificação com os padrões normais de idade cronológica. Uma diferença de até dois anos para mais ou para menos é aceitável para idade óssea das crianças.
Após isso, devemos calcular a proporção de tamanho dos segmentos superiores e inferiores (R= SS/SI). Uma diferença maior 1,3 em crianças de 3 anos ou maior que 1,0 em crianças de 7 anos indicam desproporcionalidade e estão associados a condições patológicas do esqueleto.
Por outro lado, a maioria dos casos de baixa estatura são proporcionais e revelam um defeito hormonal. Dentro da baixa estatura proporcional, temos:
- Se a idade óssea for igual a idade cronológica = baixa estatura familiar (não há o que fazer nesses casos).
- Se a idade óssea é diferente da idade cronológica = atraso constitucional do crescimento.
#Ponto importante: No atraso constitucional do crescimento, os pais apresentaram puberdade atrasada, mas a estatura alvo do paciente é normal. No caso da baixa estatura familiar, a estatura alvo já é baixa.
Etiologias orgânicas da baixa estatura
Várias razões médicas podem causar baixa estatura, como doenças e distúrbios, sendo os mais significativos as deficiências hormonais. Por mais que se pense que as endocrinopatias, particularmente a deficiência de hormônio do crescimento (GH), sejam a principal causa de baixa estatura, elas representam menos de 1%.
Doenças que influenciam no crescimento incluem insuficiência renal (principalmente acidose tubular aguda), doença celíaca, doenças inflamatórias intestinais, doenças cardíacas e fibrose cística. Das endocrinopatias, a causa mais comum é o hipotireodismo, seguido por deficiência de GH adquirido.
Dos distúrbios genéticos que afetam o crescimento, os mais comuns são síndrome de Down e síndrome de Turner (X0). Acondroplasia (nanismo), displasia diastrófica (nanismo de membros curtos), displasias espondiloepifisárias (nanismo de tronco curto) e raquitismo são exemplos de doenças ósseas.
Deficiência de GH
Acomete 1 a cada 4 a 10 mil nascidos vivos, com predominância entre 2 a 3 anos de idade, ocorrendo atraso na velocidade de crescimento e atraso na idade óssea (atraso constitucional do crescimento). O diagnóstico é feito através de testes de estimulação de IGF-1/IGFBP-3 e GH.
No entanto, se as endocrinopatias representam apenas 1% dos casos, porque se discute tanto sobre o GH?
O tratamento primário da baixa estatura deve ter como objetivo aliviar a causa subjacente, mas o tratamento com análogos do hormônio liberador de gonadotropina (GnRHa) é administrado em outros casos que não apenas a deficiência de GH, incluindo:
- Desenvolvimento de puberdade precoce ou precoce;
- Insuficiência Renal Crônica;
- Síndrome de Turner;
- Síndrome de Prader-Willi;
- Retardo de Crescimento Intrauterino (RCIU);
- Baixa Estatura Idiopática (BEI);
- Haploinsuficiência do Gene SHOX; e
- Sindrome de Noonan.
O aconselhamento psicológico é importante para os indivíduos que possuem sofrimento psicossocial devido a sua baixa estatura adquirirem mecanismos de enfrentamento.
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Referências bibliográficas:
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