Resumo sobre Condromalácia: definição, manifestações clínicas e mais!
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Resumo sobre Condromalácia: definição, manifestações clínicas e mais!

E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco é a condromalácia, uma condição caracterizada pelo amolecimento e desgaste da cartilagem articular, especialmente na região da patela. 

O Estratégia MED está aqui para simplificar esse tema e ajudar você a aprofundar seus conhecimentos, promovendo uma prática clínica ainda mais segura e eficaz.

Vamos nessa!

Definição de Condromalácia

A condromalácia patelar, também chamada de síndrome da dor patelofemoral, é uma condição que afeta a cartilagem hialina localizada na superfície articular da patela, promovendo seu amolecimento e desgaste anormal. 

Esse processo degenerativo pode provocar dores na parte anterior do joelho, especialmente durante atividades que envolvam flexão e extensão frequentes, como subir escadas, agachar ou permanecer sentado por longos períodos.  

A patologia pode acometer qualquer articulação, mas é mais comum no joelho devido ao desgaste e traumas frequentes nessa região, que está diretamente relacionada ao mecanismo extensor dos membros inferiores. 

Suas causas variam e incluem fatores como traumas diretos, desalinhamento articular, prática de atividades físicas de alto impacto, sedentarismo, excesso de peso e o envelhecimento. 

Embora o mecanismo fisiopatológico não seja completamente compreendido, sabe-se que a sobrecarga e o desequilíbrio biomecânico são fatores-chave para o desenvolvimento da condromalácia patelar.

Epidemiologia e fatores de risco

A condromalácia patelar apresenta fatores epidemiológicos e de risco que ajudam a entender sua prevalência em diferentes grupos. Estudos indicam que a doença é influenciada por variáveis como idade, sexo, obesidade, anomalias estruturais e atividades de impacto. 

Embora a idade avançada esteja frequentemente associada à condromalácia devido ao desgaste articular, há evidências de que a patologia também afeta adolescentes, especialmente entre 11 e 15 anos, devido à prática excessiva de atividades físicas. Esse dado sugere que o desgaste articular pode estar mais relacionado à sobrecarga funcional do que ao processo natural de envelhecimento.

O sexo feminino apresenta maior incidência, possivelmente devido a diferenças anatômicas e biomecânicas, como maior espessura de gordura subcutânea no joelho, o que pode contribuir para a degeneração da cartilagem. 

A obesidade é outro fator de risco significativo, pois o excesso de peso aumenta a sobrecarga mecânica na articulação patelofemoral, favorecendo o surgimento de fissuras e erosões na cartilagem.

Além disso, condições estruturais, como desalinhamentos ou má formação da patela, associadas ao desajuste musculoesquelético, como a fraqueza do vasto medial, também desempenham papel importante na predisposição à condromalácia. 

Atividades de alto impacto, como corrida, ou aquelas que exigem esforços repetitivos, como carregar cargas pesadas, aumentam o risco devido ao desgaste mecânico provocado pela repetição de movimentos articulares. Essas variáveis demonstram a complexidade da epidemiologia da condromalácia patelar e reforçam a necessidade de atenção aos fatores de risco para prevenir seu desenvolvimento.

Fisiopatologia da Condromalácia

A fisiopatologia da condromalácia patelar ainda não é totalmente compreendida, mas é amplamente aceita a hipótese de que resulta da combinação de desalinhamento da patela em relação ao fêmur distal e dos traumas repetitivos sofridos pela cartilagem articular. 

Um fator relevante nesse contexto é o ângulo Q, que corresponde à intersecção da linha que une a espinha ilíaca ântero-superior ao centro da patela e a linha que conecta esse centro à tuberosidade anterior da tíbia.  

Um aumento no ângulo Q reflete um maior tensionamento do músculo quadríceps, o que gera um vetor biomecânico em valgo, favorecendo a lateralização da patela. Essa condição de desalinhamento patelofemoral aumenta o contato e a pressão entre a face lateral da patela e o côndilo lateral do fêmur, especialmente durante atividades que envolvem suporte de peso, como correr ou subir escadas. Estudos sugerem que um aumento de 10° no ângulo Q pode elevar a compressão articular patelofemoral em até 45%.  

Esse aumento da pressão contribui para o desgaste progressivo da cartilagem hialina, favorecendo a ocorrência de fissuras, erosões e, consequentemente, a dor característica da síndrome da dor patelofemoral (SDPF). 

Dessa forma, além do dano direto à cartilagem, alterações estruturais intrínsecas da articulação desempenham papel central no desenvolvimento da condromalácia patelar e de suas manifestações clínicas.

Condromalácia
Fonte: UpToDate

Quadro Clínico

Os sintomas mais comuns incluem:

  • Dor anterior no joelho: localizada na articulação patelofemoral, geralmente agravada por atividades que aumentam o estresse mecânico, como subir escadas, agachar ou ficar sentado por longos períodos.
  • Crepitações articulares: sensação de estalos ou ruídos no joelho durante o movimento. Em alguns casos, podem ser o único sintoma, sem a presença de dor.
  • Edema e calor local: podem surgir devido à inflamação associada à condropatia.

Casos atípicos podem ocorrer, apresentando apenas sintomas leves ou ausência de dor significativa, dificultando o diagnóstico inicial.

Diagnóstico de Condromalácia Patelar

O diagnóstico da condromalácia patelar (CMP) combina a análise de dados clínicos, exames físicos e métodos de imagem, com foco em identificar o comprometimento articular e guiar o manejo terapêutico.

A investigação clínica deve começar com a análise de sintomas, como dor anterior no joelho e crepitações, correlacionados ao histórico do paciente. No exame físico, avalia-se:

  • Força e aparência do quadríceps: para detectar sinais de hipotrofia ou alterações funcionais.
  • Mobilidade e dor patelar: identifica desconforto à palpação ou movimentação.
  • Crepitações articulares: observadas durante a mobilização do joelho.
  • Disposição dos pés e tornozelos: auxilia na avaliação biomecânica.

Teste de Clarke

Um teste específico realizado para investigar a CMP é o Teste de Clarke, no qual se aplica pressão sobre a porção superior da patela, enquanto o paciente contrai o quadríceps. A presença de dor e incapacidade de manter a contração muscular sugere um acometimento articular, embora o teste não seja exclusivo da CMP.

Sinal de Clarke
Sinal de Clarke

Exames de Imagem

Ressonância Magnética (RNM)

É a principal ferramenta diagnóstica, permitindo:

  • Avaliação detalhada das cartilagens.
  • Identificação de tamanho, localização e profundidade das lesões.
  • Classificação das lesões, como a Classificação de Outerbridge e a Classificação das Lesões Condrais da ICRS.

Radiografia Convencional

Embora menos detalhada, é amplamente disponível e útil para:

  • Avaliar alinhamento do joelho e dimensões dos espaços articulares.
  • Monitorar a progressão de condições associadas, como osteoartrose.

Artroscopia

Considerada o padrão-ouro para o diagnóstico, é um método invasivo que permite:

  • Visualização direta das estruturas articulares.
  • Classificação precisa das lesões condrais com base na Classificação de Outerbridge.
  • Possibilidade de intervenção terapêutica durante o procedimento.

Classificação de Outerbridge da Cartilagem Articular

GrauAchados na ArtroscopiaAchados na RNM
0Cartilagem normal.Cartilagem normal.
ICartilagem amolecida e edemaciada.Superfície intacta, heterogênea, com alto sinal.
IIFragmentação e fissuras com área até 1,5 cm².Fragmentação e fissuras estendendo-se até a superfície.
IIIFragmentação e fissuras com área maior que 1,5 cm².Perda parcial da espessura da cartilagem, com ulceração focal.
IVErosão da cartilagem subcondral.Exposição do osso subcondral.

Tratamento da Condromalácia

O tratamento da condromalácia patelar é desafiador devido à ausência de um método específico que seja considerado eficaz e universalmente aceito. Dessa forma, a abordagem inicial geralmente prioriza intervenções não cirúrgicas, que buscam aliviar os sintomas e restaurar a funcionalidade articular.

Tratamento Conservador

A estruturação do plano terapêutico deve começar pela correlação dos dados da anamnese e do exame físico com possíveis intervenções. Dispositivos ortopédicos, como órteses que auxiliam na ergonomia e funcionalidade do paciente, podem ser utilizados. Além disso, o controle da dor é essencial, podendo ser realizado por meio de analgésicos, crioterapia, termoterapia e fisioterapia. 

Concomitantemente, o fortalecimento muscular, especialmente do quadríceps, é uma prioridade para melhorar a mobilidade articular e a estabilidade da patela.

Entre os métodos de reabilitação, o treinamento resistido tem se mostrado particularmente eficaz. 

Estudos indicam que essa modalidade melhora significativamente os quadros álgicos da condromalácia patelar, especialmente na síndrome da dor patelofemoral, com resultados expressivos após 12 a 60 sessões. Pesquisas reforçam que o fortalecimento muscular, realizado sob supervisão de profissionais qualificados, é uma estratégia eficaz para alívio das dores e melhora da funcionalidade.

Tratamento Cirúrgico

Nos casos em que o tratamento conservador não é suficiente, seja pela progressão da patologia ou pela resposta terapêutica inadequada, a intervenção cirúrgica pode ser necessária. O manejo cirúrgico tem como foco as lesões condrais, podendo incluir técnicas como excisão da cartilagem patelar, raspagem, perfuração ou realinhamento ósseo patelar. 

A artroscopia, além de ser um método diagnóstico, permite a remoção de fragmentos intra-articulares, o que pode aliviar os sintomas.

Outras abordagens incluem o transplante autólogo de condrócitos e o transplante de aloenxerto osteocondral, que visam à regeneração da cartilagem. 

No entanto, essas técnicas ainda carecem de validação mais ampla na literatura científica. Em casos reservados, a osteotomia proximal da tíbia pode ser considerada, especialmente quando há alterações anatômicas que contribuem para a patologia.

Veja também!

Referências

Carlton J Covey, MDRobert H Shmerling, MD. Approach to the adult with unspecified knee pain. UpToDate,2024. Disponível em: UpToDate

SILVA, T. F. P. et al. Condromalácia patelar – aspectos etiológicos, epidemiológicos e manejo terapêutico. Brazilian Journal of Development, Curitiba, v. 7, n. 10, p. 98464-98473, out. 2021. DOI: 10.34117/bjdv7n10-253.

SANTOS, L. A. F. dos; RONCONI, M.; THOMAZINE, G. R. Abordagem da condromalácia patelar: uma revisão integrativa da literatura. Research, Society and Development, v. 12, n. 12, e34121243904, 2023. DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v12i12.43904.

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