Segundo a Organização mundial da Saúde, a atenção primária à saúde (APS) representa o primeiro nível de contato dos indivíduos, da família e da comunidade com o sistema nacional de saúde pelo qual os cuidados são levados o mais proximamente possível aos lugares onde as pessoas vivem e trabalham, e constituem o primeiro elemento de um continuado processo de assistência à saúde.
Para que isto ocorra, a APS conta com diversos princípios e ferramentas para que exerça seu papel na rede de cuidado à população. Aqui será apresentado para vocês, as principais ferramentas utilizadas na APS e as que mais caem em provas de residência.
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Atenção primária: Método clínico centrado na pessoa
O Método Clínico Centrado na Pessoa (MCCP) é um recurso auxiliar fundamental para a compreensão dos motivos que levam uma pessoa a se consultar. É uma valorização das percepções e experiências do paciente, com benefícios comprovado, como melhora controle de sintomas sistêmicos, doenças crônicas e melhor adesão aos tratamentos.
Em 2017, Stewart et al. utilizaram quatro componentes que interagem entre si para utilização do MCCP. Esses componentes são os aspectos dessa ferramenta que mais caem em provas:
1 Explorando a Saúde, a Doença e a Experiência da Doença
Para entender melhor a experiência da pessoa em relação a doença, é preciso entender o motivo que o paciente buscou ajuda naquele momento, além dos sinais e pistas emitidos pelos pacientes. O método SIFE é um acrônimo que pode ser utilizado como:
- Sentimentos: os sentimentos das pessoas a respeito de seus problemas. Por exemplo, esse individuo teme que os sintomas manifestados possam indicar uma doença mais séria, como um câncer. Por outro lado, esses pacientes podem não levar a sério condições que acarretem riscos à sua saúde. Isso é muito comum em pacientes com hipertensão arterial crônica ou diabetes pois como são assintomáticas no início da doença, não acho que seja algo sério.
- Ideias: suas ideias sobre o que está errado. Embora às vezes a ideia que uma pessoa faz de um sintoma seja bastante objetivo, às vezes outros encaram problemas de saúde como punições ou até como a oportunidade, de forma muitas vezes inconsciente, de se tornar dependente e ser cuidado.
- Funcionalidade: o que a doença está impactando na vida do paciente. Por exemplo, um trabalhador com ciatalgia que não consegue exercer suas atividades laborais devido à dor lombar.
- Expectativas: são as expectativas que o paciente tinha sobre a consulta médica. Por exemplo, muitas vezes o paciente vai para a consulta querendo realizar vários exames ou em busca de um tratamento medicamentoso específico que muitas vezes não é indicado.
2 Entendendo a Pessoa como um todo
Talvez a parte mais importante do método clínico centrado na pessoa, aqui observa-se que as doenças de alguém são apenas uma das dimensões de sua condição de pessoa portanto são uma forma restrita de entender a experiência da doença e o sofrimento que a pessoa sente.
Aqui é importante conhecer a história de vida, aspectos pessoais, hábitos de vida, ciclo vital ao individual e familiar, redes de apoio, contexto profissional e comunidade que está inserida.
3 Elaborando um Plano Conjunto de Manejo dos Problemas
O manejo dos problemas será baseado em uma decisão compartilhada baseada nas preferências do paciente, do médico e da família. Por este motivo, uma ação importante do médico é a utilização de uma linguagem que o paciente possa entender sobre sua condição, evitando termos técnicos complicados.
Após chegarem a um entendimento mútuo sobre os problemas, o próximo passo é avaliar as metas e prioridades do tratamento e manejo. Se estas forem divergentes, encontrar um planejamento conjunto poderá se tornar um desafio.
4 Intensificar a relação médico-paciente
O quarto componente trata do aprimoramento contínuo da relação médica em pessoa, a cada encontro. Este processo é facilitado quando o médico segue os princípios da atenção básica, como longitudinalidade e criação de vínculo.
Atenção primária: Registro de clínico orientado por problemas
A base para o registro orientado por problemas visa o registro de dados do paciente em prontuário, contribuindo assim para a longitudinalidade do cuidado, além da geração de uma lista de problemas para auxiliar no raciocínio diagnósticos.
A cada consulta deve ser realizada as notas de evolução em um modelo muito difundido dentro da atenção básica e em nível ambulatorial, o SOAP:
- S (subjetivo): Aqui é descrito as queixas do paciente e os aspectos discutidos acima acerca do MCCP, história pregressa, fatores de risco e outros dados da anamnese.
- O (objetivo): tudo aquilo que se observa, como resultados do exame físico, exames complementares, encaminhamentos e relatórios médicos.
- A (avaliação): aqui é registrado a lista de problemas criados e impressão diagnóstica. Muitas vezes não é possível encontrar um diagnóstico sindrômico e as queixas do paciente podem se repetir dentro da avaliação como um problema.
- P (plano): deve ser descrito o planejamento diagnóstico, terapêutico, educacional e de seguimento realizado para o paciente durante a consulta.
Atenção primária: instrumentos de abordagem familiar
Com esses instrumentos tem-se o objetivo de avaliar a composição (anatomia), desenvolvimento, funcionalidade e rede de apoio familiar do indivíduo, visando a busca de possíveis achados disfuncionais que possam contribuir para o processo de cuidado. Os dois principais instrumentos utilizados para este fim são o genograma e o ecomapa.
Genograma
O genograma é uma ferramenta visual para organizar as informações sobre comorbidades, relações e viabilidade dos membros da família e que demonstra a dinâmica familiar através de conexões entre esses membros. Deve-se delimitar os membros das famílias que moram na mesma casa e ter, no mínimo, 3 gerações.
Ecomapa
Nesta ferramenta que também é visual demonstra-se a rede de apoio de uma família ou indivíduos dessa família, as ligações internas e externas desses membros da família e visualizar com uma rede de apoio pode contribuir para o bem estar dessas pessoas.
Atenção primária: Projeto terapêutico singular (PTS)
O PTS é um conjunto de propostas de condutas terapêuticas articuladas, para um sujeito individual ou coletivo, resultado da discussão coletiva de uma equipe multidisciplinar. Geralmente é dedicado a situações mais complexas.
O PTS estabelece uma sequência lógica para cuidado desses casos mais complexos:
- Diagnóstico: que deverá conter uma avaliação orgânica, psicológica e social, que possibilite uma conclusão a respeito dos riscos e da vulnerabilidade do usuário.
- Definição das metas de curto, médio e longo prazo negociadas com o paciente.
- Divisão da responsabilidade entres os membros da equipe e também do paciente, sendo importante definir as tarefas de cada um com clareza.
- Reavaliação constante, momento em que se discutirá a evolução e se farão as devidas correções de rumo.
Veja também:
- Resumo de estudos epidemiológicos: transversal, coorte, ensaios clínicos e mais!
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- ResuMED de medicina de família e comunidade
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Referências bibliográficas:
- Brasil. Ministério da Saúde. Clínica ampliada, equipe de referência e projeto terapêutico singular / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização – 2. ed. – Brasília: Ministério da Saúde, 2007.
- Edison JC et al. Álbum de Família – Genograma: um instrumento para a atenção primária à saúde e estudo de famílias. Disponível em UNASUS.
- Ferramentas para o trabalho na Atenção básica em Saúde. UNASUS.
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