Olá, querido doutor e doutora! O dissulfiram é um medicamento utilizado principalmente no tratamento de pacientes com dependência crônica do álcool. Sua ação baseia-se no bloqueio da enzima aldeído-desidrogenase, promovendo sintomas desconfortáveis após ingestão alcoólica, incentivando a abstinência.
O uso do dissulfiram deve sempre ocorrer com consentimento explícito e consciente do paciente, devido ao risco significativo de reações graves caso ocorra ingestão alcoólica concomitante.
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Visão geral
O dissulfiram é um medicamento empregado principalmente na abordagem terapêutica da dependência crônica do álcool. Sua indicação ocorre sobretudo em pacientes que manifestam forte motivação em manter a abstinência, já que sua ação se baseia na geração de reações físicas intensas e desagradáveis quando combinado ao consumo de álcool. Tais reações funcionam como um mecanismo dissuasivo ao uso de bebidas alcoólicas, auxiliando na manutenção da sobriedade a longo prazo.
Indicações e dosagem
Indicações
O dissulfiram está indicado principalmente para o tratamento de pacientes adultos com dependência crônica ao álcool, funcionando como uma estratégia farmacológica complementar em programas que visam a abstinência completa. Seu uso é recomendado especialmente para indivíduos que estejam conscientes sobre os riscos da interação medicamento-álcool e comprometidos com a interrupção definitiva do consumo alcoólico.
Pode ser particularmente útil para aqueles que não tiveram resposta adequada ou que possuem intolerância às opções terapêuticas consideradas de primeira linha, como acamprosato e naltrexona.
Dosagem
A administração recomendada para adultos inicia-se com a dose de 500 mg ao dia, em dose única, durante um período que varia entre uma a duas semanas. Posteriormente, dependendo da resposta clínica e tolerabilidade, o paciente pode reduzir para uma dose diária de manutenção, geralmente em torno de 250 mg.
A administração do comprimido deve ser feita por via oral, preferencialmente pela manhã, acompanhado por água. No caso das formulações em pó, a dose recomendada corresponde a uma colher medidora diária, administrada também preferencialmente no período matutino, sem mistura com líquidos ou alimentos.
Contraindicações
- Hipersensibilidade conhecida ao dissulfiram ou qualquer componente da fórmula;
- Consumo recente de álcool (menos de 24 horas);
- Psicose ativa ou história pregressa de quadros psicóticos;
- Uso concomitante com metronidazol ou paraldeído;
- Presença de doença cardíaca grave, especialmente insuficiência cardíaca grave ou doença arterial coronariana significativa;
- Pacientes em estado de intoxicação alcoólica;
- Gestantes (categoria C – utilizar somente se benefício superar o risco potencial ao feto);
- Lactação (amamentação) devido ao risco potencial para o lactente; e
- Crianças e adolescentes (uso pediátrico não recomendado).
Efeitos adversos do dissulfiram
Os efeitos adversos associados ao uso de dissulfiram podem variar de leves a potencialmente graves:
- Efeitos neurológicos e psiquiátricos: os principais efeitos neurológicos incluem cefaleia, sonolência, cansaço intenso e, mais raramente, quadros psiquiátricos como confusão mental, perda de memória ou psicose. Neuropatia periférica é uma complicação incomum, porém relevante.
- Efeitos gastrointestinais: no sistema gastrointestinal, destaca-se o gosto metálico ou amargo na boca, náuseas e desconforto abdominal leve.
- Efeitos dermatológicos: podem ocorrer reações alérgicas como rash cutâneo e dermatite alérgica, embora pouco comuns.
- Complicações hepáticas: o dissulfiram pode provocar hepatite medicamentosa, que varia de quadros leves até insuficiência hepática grave, mesmo após interrupção do tratamento.
- Outros efeitos: outras possíveis reações incluem impotência sexual e distúrbios no paladar, geralmente com sensação metálica ou amarga na boca.
Características farmacológicas do dissulfiram
Farmacocinética
O dissulfiram apresenta absorção oral rápida, alcançando um pico máximo no plasma após cerca de 12 horas, embora sua absorção não seja completa, variando entre 70% e 90%. Após absorção, distribui-se amplamente pelos tecidos adiposos devido à sua alta solubilidade lipídica, atravessando com facilidade a barreira hematoencefálica. A substância tem uma meia-vida prolongada, entre 10 a 14 dias, sendo eliminada principalmente pela via urinária e parcialmente pelos pulmões através da respiração.
Farmacodinâmica
A ação do dissulfiram ocorre pelo bloqueio irreversível da enzima aldeído-desidrogenase (ALDH). Essa inibição impede a conversão de acetaldeído em acetato após o consumo de álcool, provocando acúmulo de acetaldeído sérico. A presença elevada desse composto desencadeia sintomas desconfortáveis, como rubor facial, tontura, taquicardia, cefaleia pulsátil, náuseas, hipotensão e mal-estar geral, o que cria uma aversão ao álcool e promove a abstinência.
Paciente adulto
Em adultos, a dose inicial recomendada geralmente é de 500 mg ao dia durante as primeiras 1 a 2 semanas. Posteriormente, a manutenção é feita com doses diárias de 250 mg.
Paciente pediátrico
O dissulfiram não está indicado para pacientes pediátricos, devido à ausência de evidências sobre segurança e eficácia nessa faixa etária.
Paciente idoso
Para idosos, é aconselhável iniciar o tratamento com doses reduzidas, devido à maior susceptibilidade a efeitos adversos hepáticos, renais e cardíacos.
Gestantes
O dissulfiram pertence à categoria C de risco para gestantes, indicando ausência de estudos suficientes que comprovem segurança absoluta durante a gravidez. Assim, seu uso deve ser considerado somente quando os possíveis benefícios superarem claramente os riscos potenciais ao feto.
Durante o período de amamentação, a medicação não é recomendada devido à possibilidade de exposição do lactente aos efeitos prejudiciais da interação entre dissulfiram e álcool.
Advertências e precauções do dissulfiram
- Os pacientes devem ser orientados a evitar quaisquer produtos que contenham álcool, incluindo alimentos, bebidas, medicamentos líquidos, enxaguantes bucais e produtos tópicos como soluções para higiene das mãos.
- O paciente deve estar informado claramente sobre os riscos da reação dissulfiram-álcool antes do início do tratamento.
- Não deve ser administrado a pacientes com diagnóstico atual ou história de psicose.
- Durante o tratamento, é aconselhável monitorar regularmente funções hepática e cardíaca, além do hemograma, especialmente no início da terapia.
- O uso concomitante de cocaína pode aumentar o risco de alterações no intervalo QT.
Principais interações medicamentosas
- Metronidazol: risco elevado de efeitos tóxicos graves; contraindicado o uso simultâneo.
- Sertralina: associação com alto risco de toxicidade grave, devendo ser totalmente evitada.
- Diazepam: dissulfiram pode aumentar níveis séricos do diazepam, exigindo monitoramento rigoroso ou evitando a combinação.
- Varfarina: potencializa o efeito anticoagulante, aumentando o risco de sangramento; necessária monitorização frequente.
- Teofilina: dissulfiram aumenta os níveis séricos da teofilina, exigindo vigilância próxima.
- Isoniazida: associação pode ampliar efeitos adversos tóxicos; recomendada cautela extrema e monitorização constante.
Superdosagem ou intoxicação
O dissulfiram pode causar intoxicações significativas quando consumido em doses excessivas, especialmente em situações de ingestão acidental. Os quadros de intoxicação caracterizam-se por sintomas graves como hipoglicemia, alterações neurológicas agudas, incluindo encefalopatia, sintomas extrapiramidais, parkinsonismo e neuropatia periférica.
O tratamento em casos de intoxicação por dissulfiram é predominantemente sintomático, já que não existe um antídoto específico disponível. As medidas terapêuticas envolvem suporte clínico adequado, como administração de oxigênio suplementar, hidratação intravenosa e monitorização cardíaca contínua. É recomendado contato imediato com um centro especializado em intoxicações para orientação adicional.
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Referências Bibliográficas
- STATPEARLS. Disulfiram. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing, 2025. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK459340/. Acesso em: 10 mar. 2025.